Sim, o cinema brasileiro tem história!
O grande resgate do cinema brasileiro ocorreu no início da década de 90, com as leis de incentivos fiscais. Foi nesse período que começaram a ressurgir bons filmes como Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995), de Carla Camutari, Cidade de Deus (2002), Carandiru (2003), Central do Brasil, Carandiru (2003), Tropa de Elite (2007), Meu Nome não é Johnny e o estrondoso sucesso da série comercial E Se Fosse Você. Mas antes disso o cinema nacional há tempos estava sem moral alguma. Estagnado. O mercado exigia cada vez mais filmes norte americanos, as salas de exibição não destinavam lugar para nossos filmes e o público estava cada vez mais distante das produções notoriamente defasadas com relação ao cinema produzido em outros países. Fácil era ouvir o jargão: “Pagar para ver filme nacional? Nunca.”
Sim, o cinema brasileiro tem história!
Mas o cinema brasileiro tem história sim. O primeiro cinema inaugurado aqui foi na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, com a exibição de gala de um filme que exibia algumas cenas do Rio de Janeiro, dentre elas a baía da Guanabara. Mas há registros de que em 1902 já havia pelo menos um cinema, o “Cine –Phone” em São Paulo, onde eram exibidos filmes não nacionais.
A partir de 1907, com o aumento do fornecimento de energia no país, abrem-se dezenas de salas no Rio e em São Paulo. Os filmes estrangeiros então quase que dominam todo o espaço, mas começam a surgir obras essencialmente brasileiras. Alguns filmes traziam músicos populares, que dublavam sua própria voz assim que o filme era exibido, dando início aos curtas “filmes cantantes” que traziam óperas e revistas musicais. Ou seja, cinema propriamente mudo não existia, já que havia sempre o acompanhamento, seja instrumental ou cantados. Os cantores postavam-se atrás da tela para garantir a magia.
A partir daí vários gêneros foram surgindo, como dramas históricos, histórias do nosso carnaval e comédias. Mas como a entrada e aceitação dos filmes estrangeiros sempre foi maior que o cinema brasileiro (sim, desde aquela época), o nosso cinema acabava sendo feito mais por encomenda, com manifestações isoladas (ninguém queria se arriscar em algo que provavelmente não seria visto mesmo). Houve um boom de filmes que exploravam a história recente do país, como "Os Estranguladores" (1906), "O Crime da mala" (1908) e "Noivado de Sangue (1909). Todos infelizmente perdidos.
A partir de 1915 nossa literatura passou a ser o assunto principal dos filmes: Iracema, Inocência, O Guarani. Surgiam as primeiras revistas de cinema, como a “Selecta”, “Para Todos” e “Cinearte”, divulgando suas estrelas, muitas das quais os filmes nem tinham passado por aqui. Não era raro ver em nossas terrinhas garotas ao estilo Clara Bow ou imitando trejeitos de Gloria Swanson. O Brasil passou a criar suas próprias estrelas, espécies de filiais, que lindamente se apresentavam como a Greta Garbo ou a Clara Bow nacional.
A década de 60, o surgimento do “Cinema novo” trouxe status para o nosso cinema nacional, com filmes marcantes como “O Pagador de Promessas” de Anselmo Duarte, que foi premiado com a Palma de Ouro do Festival de Cannes. O grande lema era “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça”, e lá vinham nossos cineastas mostrando nosso lado mais obscuro, como a pobreza e os problemas sociais que podem ser visto em filmes como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. Um dos grandes nomes deste período foi Nelson Pereira dos Santos. Outros filmes de destaque foram “Barravento”, “Os Cafajestes” (1961) e “Vidas Secas” (1964).
Infelizmente com a chegada da década de 70 a crise nas artes atingiram o cinema, que já não podia abordar questões sociais e tão somente passou a registrar filmes de consumo fácil: as chamadas pornochanchadas. Larga escala de filmes pífios começaram a ser produzidos, e foi aí que surgiu a idéia de que filme nacional não valia o ingresso, que só começou a redesenhar-se com qualidade a partir de meados da década de 90, com o ressurgimento do nosso cinema.
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